O que é a Experiência Somática?
A Experiência Somática é uma terapia estudada e desenvolvida há quase 40 anos pelo americano Peter Levine, formado em biofísica médica e psicologia.
É uma terapia de orientação corporal, que assenta em estudos neurofisiológicos realizados sobre a interconexão corpo-cérebro-mente, com base no que se conhece de mais recente a nível da neurociência.
Este revolucionário método assenta no princípio que todos os seres humanos, têm capacidade inata para superar e curar os sintomas de stress pós traumático (crónico) e outros sintomas relacionados com o trauma e doenças, se for dado o apoio adequado.
O indivíduo volta a uma maior capacidade de funcionamento, assim como a um nível mais alto de saúde e bem estar, o que faz com a Experiência Somática seja uma terapia altamente eficaz no tratamento do trauma.
Rute Maló
O que é que se pode esperar de uma sessão de Experiência Somática? Deixa o corpo contar a História…
Numa sessão de Experiência Somática é o corpo que conta a história. Dispensamos tudo aquilo que o pensamento já elaborou! Que recapitulou de frente para trás e trás para a frente. Ignoramos os pensamentos que surgem em catadupa, ruminantes, que nada acrescentam senão culpa, sofrimento e cansaço.
O que esta abordagem somática convida é estar em contacto com aquilo que o corpo trás para cada sessão e ouvir a história que o corpo nos quer contar!
No amparo de uma relação terapêutica e “empoderado” pelos recursos que descobriu em si, o corpo sente a segurança de revisitar lugares de dor!
Podem surgir emoções que finalmente tiveram espaço para ser sentidas, respostas motoras que puderam ser concluídas, fragmentos de imagens que se perderam no meio de emoções tão fortes!
É um pouco de nós que é resgatado! Saímos mais inteiros no final de cada sessão e por isso mais fortes!
A terapia ensina-nos entrar em contacto com a emoção sem deixarmo-nos inundar por ela!
Podemos entrar em contacto com a tristeza, sem ser tristeza! Com a raiva, com o medo…
“Entrar em contacto” encerra em si esta possibilidade de observação por parte do próprio indivíduo, de algo que acontece em si. É como se estabelecêssemos uma “ligação” entre nós e a emoção, com a possibilidade de modulação da intensidade do que está a ser sentido.
O papel do terapeuta é de facilitar esta modulação de intensidade de tudo que está a ser experienciado, ensinando o sistema a ir para os seus pontos de apoio, sempre que necessário, podendo desta forma auto regular-se.
O próprio terapeuta é um ponto de apoio. É nesta relação com o outro, que se abre a possibilidade de aceder a memórias, que de outra forma não seria possível.
Fica assim ao alcance do indivíduo chegar a um lugar de fragilidade e vulnerabilidade, mas sem medo, sem se sentir ameaçado.
São nestes recantos do nosso Ser, que guardamos aquilo que mais nos magoa e que muitas vezes nos impede de seguir com a nossa vida.
Poder revisitar estes lugares, dar-lhes um novo significado, representa para o indivíduo uma nova oportunidade de recomeçar.
Estes registos são vividos no corpo, através deles, o indivíduo resgata os impulsos de fuga e luta com os que ficaram congelados.
A medida que estas respostas são completadas a paralisia que ficou no sistema dissipa e o indivíduo volta não somente a uma capacidade de funcionamento, mas a um nível mais alto de saúde e bem estar.
É um convite para um diálogo com o nosso corpo as nossas sensações os nossos recursos e possibilidades.
Rute Maló
Qual é a relação entre o corpo e trauma/choque emocional?
Todos nós em determinada altura das nossas vidas, tivemos que lidar com uma situação impactante! Algo que se revela maior que nós! Maior do que aquilo que a nossa estrutura física, psíquica e emocional estava preparada para receber. Mas à parte disso a vida segue, com exigências, com expectativas dos outros em relação a nós e nossas em relação a nós mesmos.
Nesses momentos é preciso “segurar”!
Em que sítio do meu corpo é que eu seguro, para lidar com algo impactante? Onde é que eu tensiono? Que estruturas do meu corpo contraio, para sustentar a carga de algo que veio de forma inesperada, rápida ou intensa?
Como é que eu me relaciono com o mundo, quando preciso de segurar todas as emoções, que não puderam ser sentidas? Como é que eu carrego isso na minha linguagem corporal?
Através da combinação de várias técnicas, dentro de uma abordagem somática é possível construir um senso de território no corpo, que permite uma nova construção do esquema corporal, que se percute na forma como me permito relacionar com os outros e com o mundo.
Rute Maló
Resgate da sabedoria do corpo
Resgate da sabedoria do corpo!
Fomos educados para não sentir!
Todos nós enquanto crianças ouvimos coisas tais como: “não chores”, “já passou”, “isso não foi nada”, “as meninas crescidas não choram!” e os meninos ainda menos, porque “chorar é coisa de meninas”!?
Refletido sobre estas expressões, que fazem parte do consciente coletivo de todos nós, podemos facilmente perceber como o “não sentir” foi sendo reforçado à medida que fomos crescendo.
Uma crença que foi alimentada nas entrelinhas, confirmada por atitudes e apoiada sempre que a criança vê o ar de desaprovação dos pais, quando se comporta de forma mais emocional.
Crescemos sem aprender a lidar com as emoções. As nossas e as dos outros! Somos peritos em suprimi-las, permitindo deste modo que elas se expressem, a um nível mais profundo do nosso Ser!
Eu arriscaria a dizer que há um constrangimento ao testemunhar o sofrimento do outro. Daí que seja desincentivado essa exploração. Mas o corpo arranja sempre forma de ser ouvido!
Como podemos entrar em contacto com as emoções, sem que isso seja ameaçador?
Porquê as dores emocionais podem manifestar-se sobre a forma de dor física?
As maiores batalhas são travadas dentro de cada um de nós! Há dores que vêm de um silêncio gritado pelo corpo, que na falta de voz, se expressa da forma que pode.
Porque cada memória está gravada em cada músculo, em cada articulação, em cada célula, em cada víscera. Está tudo lá…
Rute Maló